23 de mar. de 2012

AS LÁGRIMAS DE CRISTO

Pe. Virgilio Ciaccio

Cristo não vem a nós feito filósofo, a proclamar que a vida é a doença e a morte é o remédio. Nunca ele prestigiou a morte e jamais desprestigiou a vida. Pelo contrário, Jesus Cristo veio ao mundo para ajudar a vida a derrotar a morte: a ressurreição de Lázaro é prova disso. O comover-se e o chorar de Cristo ao saber que Lázaro falecera querem ser protesto contra o poder abusivo da morte e hino de amor à preciosidade e beleza da vida. Aquelas lágrimas derramadas pela morte de um amigo revelam-nos o lado humano de Cristo, sua qualidade humana, sua dimensão humana. E mais, sua solidariedade com todo ser humano que chora a morte de um ente querido. Elas revelam, também, que Cristo não se conforma com os insultos que a morte continuamente desfere contra a vida, bem como a determinação dele em declarar guerra à morte e em pôr-se a serviço da vida. Hoje, as lágrimas de Cristo têm para nós sabor de provocação. Provocam-nos a sair a descoberto contra a morte e em defesa da vida; a abandonar o caminho da violência que favorece a morte e a inventar caminhos de paz por onde a vida possa transitar sem sofrer atentados; a recusar o ódio e o egoísmo, seguidores da morte, e a abraçar o amor, aliado da vida... Se olharmos em redor com atenção, perceberemos que a morte tem seu trabalho muito mais facilitado do que a vida. Os salários e benefícios previdenciários insuficientes para comprar alimentos e remédios, a falta de moradias, de segurança e saneamento básico, o criminoso tráfico de drogas, o alcoolismo, a desagregação da família, a prática inconsciente do aborto são outros tantos faróis verdes para a morte circular e outros tantos faróis vermelhos a emperrar a marcha da vida... Enquanto isso, tantos Lázaros debaixo da pedra do sepulcro, mas ainda com vida, ficam aguardando a hora da libertação...

In O Domingo (13.3.2005) – Adaptado por Ernesto Jorge Vogt (2012)

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